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quarta-feira, 25 de abril de 2012

ENTREVISTA: PARTILHANDO O DIACONATO

Como está sendo a experiência do novo Diácono na Paróquia?

As primeiras experiências como Diácono na Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Valéria e Palestina estão sendo muito ricas. Estou realizando Celebrações da Palavra, proferindo bênçãos, administrando o sacramento do Batismo, dentre outras atividades. É uma sensação fantástica, nossa vida muda completamente, tenho que me acostumar com as pessoas atribuindo-me o título de “senhor”, pedindo para abençoar água, objetos, pedindo orações particulares, etc. De modo especial, um momento muito forte para mim foi a realização do primeiro batizado, a cena está muito viva em minha mente: quando desci do carro, cheguei à parta da igreja e vi lindas crianças vestidas de branco, esperando para serem batizadas por minhas mãos, fiquei muito emocionado, mas consegui controlar a emoção e realizar o batismo. Estou “curtindo” muito tudo isso! Rsrs...

Sabemos que o Diaconato foi instituído por uma necessidade particular da Igreja primitiva, como podemos ver (At 6), hoje qual a missão do Diácono na Igreja?
Assim como no passado, o Ministério Diaconal é de singular importância para a vida da Igreja hoje, pois o cerne desse Ministério é o serviço. Dentre outras funções particulares, o Diácono exerce o múnus de: Administrar o Sacramento do Batismo; Assistir e abençoar o Matrimônio em nome da Igreja; Ministrar a exposição e a Benção do Santíssimo Sacramento; Auxiliar o sacerdote em diversas funções na Celebração Eucarística; Abençoar água, objetos, etc. Como reza o Código de Direito Canônico de nossa Igreja Católica.
Qual a diferença existente entre o Diácono permanente, o qual contrai o sacramento do Matrimônio, e vocês que serão Ordenados Sacerdotes?  São dois Sacramentos diferentes?
Bom, nós participamos de um mesmo Ministério e de um mesmo Sacramento, as faculdades, direitos e obrigações são comuns para ambas as partes. Sendo assim, o que difere o Diácono Permanente de nós Diáconos que seremos Ordenados Sacerdotes é o voto de celibato que fazemos no rito da Ordenação. Enquanto nós prometemos observar, diligentemente, o voto de celibato, tendo em vista a Ordenação Sacerdotal, o Diácono permanente não o faz pelo fato de ter contraído a aliança conjugal. No tocante às demais funções, obrigações e direitos não há diferença, pois, como já disse, participamos de um único e mesmo Ministério, embora em estados de vida diferentes.
Bom, esclarecida a diferença entre os Diáconos em estados de vida diferentes, resta saber qual a diferença entre o Padre e o Diácono?
 Então, sabemos que o Diaconato foi instituído, na Igreja primitiva, para auxiliar os Apóstolos que se dedicavam ao anúncio da Palavra, enquanto os Diáconos ocupavam-se em assistir os órfãos e as viúvas. Também, hoje, o cerne do Ministério Diaconal é o serviço, e este serviço está, intrinsecamente, relacionado com a Ceia Eucarística. Desta forma, o Ministério Diaconal, sendo o primeiro Grau do Sacramento da Ordem, existe em função deste. Sendo assim, o Diácono auxilia o Sacerdote nas Celebrações, exercendo algumas funções que lhe são outorgadas conforme prescreve o Código de Direito Canônico. Distingue-se, portanto, do primeiro Grau do Sacramento da Ordem por não poder presidir a Celebração Eucarística (ou seja, não pode consagrar a comunhão), também não pode ministrar o Sacramento da Reconciliação e nem pode administrar a Unção dos Enfermos, pois este está relacionado ao Sacramento da Confissão.
Como você convive com os desafios provenientes dessa nova missão?
Irmãos, sabemos que nossa missão é grande e que nós não somos dignos de assumir tal Ministério na Igreja, porém Deus olha para nós com amor e misericórdia e nos faz participar de sua missão. A nossa vida é marcada por muitas provações, quedas e obstáculos, contudo, nos momentos mais difíceis rezo com Santo Agostinho: “Dá-me o que me pedes, Senhor, e pedes o que quiseres”, ou seja, se Deus não nos dá a sua graça, não somos capazes de corresponder ao seu apelo em nossas vidas. Busco sempre colocar toda a minha confiança, toda a minha força n’Ele para que me ajude a ser fiel.
Por fim, qual a mensagem que você deixa para os jovens vocacionados hoje?
Bom, gostaria de terminar esta entrevista com as mesmas palavras que terminei os agradecimentos no dia da minha Ordenação Diaconal. Foram as palavras que o Santo Padre, o Papa Bento XVI, dirigiu aos jovens por ocasião da Jornada Mundial da Juventude em 2011. Disse o Santo Padre: “Jovens NÃO TENHAM MEDO DE CRISTO! Ele não retira nada e dá tudo. Aquele que se dá a Ele recebe o cêntuplo. Sim, abram, abram todas as grandes portas a Cristo e encontrarão a verdadeira vida.” Que todos os jovens possam encontrar, em Cristo, o verdadeiro sentido de suas vidas, assim como eu O encontrei, esse é o desejo do meu coração. Deus abençoe a todos!

Por: Diácono Adilson Silva.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

MÃOS CARINHOSAS


Meus queridos,

Segue mais uma postagem para animar a nossa caminhada rumo a santidade: o exemplo de Irmã Dulce, o Anjo Bom da Bahia. Um exemplo bem próximo de nós!

Deus abençoe a todos.

Pe. Elton Santana dos Santos.
Coordenador da Pastoral Vocacional.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

DIA DE ORAÇÃO MUNDIAL PELAS VOCAÇÕES SACERDOTAIS E RELIGIOSAS

O Dia de Oração Mundial pelas Vocações Sacerdotais e Religiosas (DMOV), que neste ano celebra a sua quadragésima nona edição, será celebrado no dia vinte e nove de abril, no domingo do Bom Pastor e terá como tema, ‘a vocação como dom do amor de Deus’.

Em nossa Arquidiocese, o DMOV será celebrado em duas ocasiões especiais: a primeira delas é uma vigília vocacional que acontecerá no Seminário Central da Bahia, a partir das 20h do dia 28/04 e será concluída às 05h da manhã, do dia 29/04. A segunda ocasião a que nos referimos anteriormente é o dia de adoração que também acontecerá em nosso Seminário, a partir das 09h até às 17h do dia 29/04 no qual os diversos movimentos e grupos da nossa Arquidiocese rezarão pelas vocações, “pedindo ao Senhor da Messe que envie operários para a sua Messe”.
O DMOV também pode ser celebrado em sua paróquia, em sua comunidade. Promovendo um momento de oração do terço, de adoração ao Santíssimo Sacramento, nos quais você reza pelas vocações, você entra em comunhão com a Igreja do mundo inteiro nesta grande corrente de oração em prol do cultivo e promoção das vocações sacerdotais e religiosas.
Pe. Elton Santana dos Santos
Coordenador da Pastoral Vocacional

AS VOCAÇÕES, DOM DO AMOR DE DEUS

MENSAGEM DO SANTO PADRE O PAPA BENTO XVI POR OCAISÃO DO 49º DIA DE ORAÇÃO MUNDIAL PELAS VOCAÇÕES


A fonte de todo o dom perfeito é Deus, e Deus é Amor – Deus caritas est –; «quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele» (I Jo 4, 16).

A Sagrada Escritura narra a história deste vínculo primordial de Deus com a humanidade, que antecede a própria criação. Ao escrever aos cristãos da cidade de Éfeso, São Paulo eleva um hino de gratidão e louvor ao Pai pela infinita benevolência com que predispõe, ao longo dos séculos, o cumprimento do seu desígnio universal de salvação, que é um desígnio de amor. No Filho Jesus, Ele «escolheu-nos – afirma o Apóstolo – antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em caridade na sua presença» (Ef 1, 4). Fomos amados por Deus, ainda «antes» de começarmos a existir! Movido exclusivamente pelo seu amor incondicional, «criou-nos do nada» (cf. 2 Mac 7, 28) para nos conduzir à plena comunhão consigo.

À vista da obra realizada por Deus na sua providência, o salmista exclama maravilhado: «Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos, a Lua e as estrelas que Vós criastes, que é o homem para Vos lembrardes dele, o filho do homem para com ele Vos preocupardes?» (Sl 8, 4-5). Assim, a verdade profunda da nossa existência está contida neste mistério admirável: cada criatura, e particularmente cada pessoa humana, é fruto de um pensamento e de um ato de amor de Deus, amor imenso, fiel e eterno (cf. Jr 31, 3). É a descoberta deste fato que muda, verdadeira e profundamente, a nossa vida. Numa conhecida página das Confissões, Santo Agostinho exprime, com grande intensidade, a sua descoberta de Deus, beleza suprema e supremo amor, um Deus que sempre estivera com ele e ao qual, finalmente, abria a mente e o coração para ser transformado: «Tarde Vos amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Vós estáveis dentro de mim, mas eu estava fora, e fora de mim Vos procurava; com o meu espírito deformado, precipitava-me sobre as coisas formosas que criastes. Estáveis comigo e eu não estava convosco. Retinha-me longe de Vós aquilo que não existiria, se não existisse em Vós. Chamastes-me, clamastes e rompestes a minha surdez. Brilhastes, resplandecestes e dissipastes a minha cegueira. Exalastes sobre mim o vosso perfume: aspirei-o profundamente, e agora suspiro por Vós. Saboreei-Vos e agora tenho fome e sede de Vós. Tocastes-me e agora desejo ardentemente a vossa paz» (Confissões, X, 27-38). O santo de Hipona procura, através destas imagens, descrever o mistério inefável do encontro com Deus, com o seu amor que transforma a existência inteira.


Trata-se de um amor sem reservas que nos precede, sustenta e chama ao longo do caminho da vida e que tem a sua raiz na gratuidade absoluta de Deus. O meu antecessor, o Beato João Paulo II, afirmava – referindo-se ao ministério sacerdotal – que cada «gesto ministerial, enquanto leva a amar e a servir a Igreja, impele a amadurecer cada vez mais no amor e no serviço a Jesus Cristo Cabeça, Pastor e Esposo da Igreja, um amor que se configura sempre como resposta ao amor prévio, livre e gratuito de Deus em Cristo» (PDV, 25). De fato, cada vocação específica nasce da iniciativa de Deus, é dom do amor de Deus! É Ele que realiza o «primeiro passo», e não o faz por uma particular bondade que teria vislumbrado em nós, mas em virtude da presença do seu próprio amor «derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo» (Rm 5, 5).

Em todo o tempo, na origem do chamamento divino está a iniciativa do amor infinito de Deus, que se manifesta plenamente em Jesus Cristo. «Com efeito – como escrevi na minha primeira Encíclica, Deus Caritas est– existe uma múltipla visibilidade de Deus. Na história de amor que a Bíblia nos narra, Ele vem ao nosso encontro, procura conquistar-nos – até à Última Ceia, até ao Coração trespassado na cruz, até às aparições do Ressuscitado e às grandes obras pelas quais Ele, através da ação dos Apóstolos, guiou o caminho da Igreja nascente. Também na sucessiva história da Igreja, o Senhor não esteve ausente: incessantemente vem ao nosso encontro, através de pessoas nas quais Ele Se revela, através da sua Palavra, nos Sacramentos, especialmente na Eucaristia» (n.º 17).

O amor de Deus permanece para sempre; é fiel a si mesmo, à «promessa que jurou manter por mil gerações» (Sl 105, 8). Por isso é preciso anunciar de novo, especialmente às novas gerações, a beleza persuasiva deste amor divino, que precede e acompanha: este amor é a mola secreta, a causa que não falha, mesmo nas circunstâncias mais difíceis.

Amados irmãos e irmãs, é a este amor que devemos abrir a nossa vida; cada dia, Jesus Cristo chama-nos à perfeição do amor do Pai (cf. Mt 5, 48). Na realidade, a medida alta da vida cristã consiste em amar «como» Deus; trata-se de um amor que, no dom total de si, se manifesta fiel e fecundo. À prioresa do mosteiro de Segóvia, que fizera saber a São João da Cruz a pena que sentia pela dramática situação de suspensão em que ele então se encontrava, este santo responde convidando-a a agir como Deus: «A única coisa que deve pensar é que tudo é predisposto por Deus; e onde não há amor, semeie amor e recolherá amor» (Epistolário, 26).

Neste terreno de um coração em oblação, na abertura ao amor de Deus e como fruto deste amor, nascem e crescem todas as vocações. E é bebendo nesta fonte durante a oração, através duma familiaridade assídua com a Palavra e os Sacramentos, nomeadamente a Eucaristia, que é possível viver o amor ao próximo, em cujo rosto se aprende a vislumbrar o de Cristo Senhor (cf. Mt 25, 31-46). Para exprimir a ligação indivisível entre estes «dois amores» – o amor a Deus e o amor ao próximo – que brotam da mesma fonte divina e para ela se orientam, o Papa São Gregório Magno usa o exemplo da plantinha: «No terreno do nosso coração, [Deus] plantou primeiro a raiz do amor a Ele e depois, como ramagem, desenvolveu-se o amor fraterno» (Moralia in Job, VII, 24, 28: PL75, 780D).

Estas duas expressões do único amor divino devem ser vividas, com particular vigor e pureza de coração, por aqueles que decidiram empreender um caminho de discernimento vocacional em ordem ao ministério sacerdotal e à vida consagrada; aquelas constituem o seu elemento qualificante. De fato, o amor a Deus, do qual os presbíteros e os religiosos se tornam imagens visíveis – embora sempre imperfeitas –, é a causa da resposta à vocação de especial consagração ao Senhor através da ordenação presbiteral ou da profissão dos conselhos evangélicos. O vigor da resposta de São Pedro ao divino Mestre – «Tu sabes que Te amo» (Jo 21, 15) – é o segredo duma existência doada e vivida em plenitude e, por isso, repleta de profunda alegria.

A outra expressão concreta do amor – o amor ao próximo, sobretudo às pessoas mais necessitadas e atribuladas – é o impulso decisivo que faz do sacerdote e da pessoa consagrada um gerador de comunhão entre as pessoas e um semeador de esperança. A relação dos consagrados, especialmente do sacerdote, com a comunidade cristã é vital e torna-se parte fundamental também do seu horizonte afetivo. A este propósito, o Santo Cura d’Ars gostava de repetir: «O padre não é padre para si mesmo; é-o para vós» [Le curé d’Ars. Sa pensée – Son cœur ( ed.  Foi Vivante - 1966), p. 100].

Venerados Irmãos no episcopado, amados presbíteros, diáconos, consagrados e consagradas, catequistas, agentes pastorais e todos vós que estais empenhados no campo da educação das novas gerações, exorto-vos, com viva solicitude, a uma escuta atenta de quantos, no âmbito das comunidades paroquiais, associações e movimentos, sentem manifestar-se os sinais duma vocação para o sacerdócio ou para uma especial consagração. É importante que se criem, na Igreja, as condições favoráveis para poderem desabrochar muitos «sins», respostas generosas ao amoroso chamamento de Deus.

É tarefa da pastoral vocacional oferecer os pontos de orientação para um percurso frutuoso. Elemento central há-de ser o amor à Palavra de Deus, cultivando uma familiaridade crescente com a Sagrada Escritura e uma oração pessoal e comunitária devota e constante, para ser capaz de escutar o chamamento divino no meio de tantas vozes que inundam a vida diária. Mas o «centro vital» de todo o caminho vocacional seja, sobretudo, a Eucaristia: é aqui no sacrifício de Cristo, expressão perfeita de amor, que o amor de Deus nos toca; e é aqui que aprendemos incessantemente a viver a «medida alta» do amor de Deus. Palavra, oração e Eucaristia constituem o tesouro precioso para se compreender a beleza duma vida totalmente gasta pelo Reino.


Desejo que as Igrejas locais, nas suas várias componentes, se tornem «lugar» de vigilante discernimento e de verificação vocacional profunda, oferecendo aos jovens e às jovens um acompanhamento espiritual sábio e vigoroso. Deste modo, a própria comunidade cristã torna-se manifestação do amor de Deus, que guarda em si mesma cada vocação. Tal dinâmica, que corresponde às exigências do mandamento novo de Jesus, pode encontrar uma expressiva e singular realização nas famílias cristãs, cujo amor é expressão do amor de Cristo, que Se entregou a Si mesmo pela sua Igreja (cf. Ef 5, 25). Nas famílias, «comunidades de vida e de amor» (Gaudium et spes, 48), as novas gerações podem fazer uma experiência maravilhosa do amor de oblação. De fato, as famílias são não apenas o lugar privilegiado da formação humana e cristã, mas podem constituir também «o primeiro e o melhor seminário da vocação à vida consagrada pelo Reino de Deus» (Exort. ap. Familiaris consortio, 53), fazendo descobrir, mesmo no âmbito da família, a beleza e a importância do sacerdócio e da vida consagrada. Que os Pastores e todos os fiéis leigos colaborem entre si para que, na Igreja, se multipliquem estas «casas e escolas de comunhão» a exemplo da Sagrada Família de Nazaré, reflexo harmonioso na terra da vida da Santíssima Trindade.

Com estes votos, concedo de todo o coração a Bênção Apostólica a vós, veneráveis Irmãos no episcopado, aos sacerdotes, aos diáconos, aos religiosos, às religiosas e a todos os fiéis leigos, especialmente aos jovens e às jovens que, de coração dócil, se põem à escuta da voz de Deus, prontos a acolhê-la com uma adesão generosa e fiel.

Vaticano, 18 de Outubro de 2011.

 PAPA BENTO XVI

terça-feira, 3 de abril de 2012

ESPIRITUALIDADE CONJUGAL

"Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela. Ele quis torna-la santa, purificando-a com o banho da água unida à Palavra.” (Ef 5, 25).


Hoje, se faz sentir de maneira premente a necessidade de uma maior clareza no que diz respeito à espiritualidade conjugal. O crescimento do número de divórcios é apenas um dos fatores que nos faz refletir sobre tal demanda e é precisamente por isso que nos propomos uma breve reflexão sobre o referido tema.

O FUNDAMENTO DA ESPIRITUALIDADE CONJUGAL
O livro do Gênesis nos apresenta com contornos poéticos a criação dos nossos primeiros Pais, Adão e Eva. Ao relatar a criação do homem antes da mulher, o autor sagrado nos remete ao problema da solidão originária. Esta solidão, sentida por Adão no paraíso, é descrita pelo autor sagrado como sendo uma espécie de defeito de fabricação: “não é bom que o homem esteja só.” (Gn 2,18). Deus nos é apresentado como alguém que, ao criar, vai tentando acertar, ou seja, vai tentando corrigir este aparente erro da solidão humana. Entretanto, os estudiosos nos revelam por detrás de tal narrativa há uma intenção teológica que impele o autor sagrado.

A solidão de Adão não é uma espécie de ‘defeito de fábrica’, mas uma realidade pensada, querida e criada por Deus. É isso mesmo: Deus criou o homem e pôs no seu coração uma solidão que nenhuma realidade criada foi capaz de satisfazer. Esta solidão é, enfim, saciada, apenas em parte, pela mulher criada por Deus. Adão ao vê-la eleva a Deus uma oração de ação de graças: “esta sim é osso dos meus ossos e carne da minha carne. Ela será chamada mulher (ishá), pois foi tirada do homem (ish).”.

A solidão originária, reiteramos, é criada por Deus. E com que finalidade? É precisamente por conta de sua solidão que Adão inicia uma marcha, uma busca: a ausência no seu ser é experimentada como vazio ou saudade. Este é o fim para o qual a solidão originária foi criada: fazer com que o homem encontre-se com um próximo e com o seu Criador, sendo Este a única pessoa capaz de saciar o seu coração criado para o infinito.


MATRIMÔNIO, FIGURA DO AMOR DE CRISTO POR SUA IGREJA

O Sacramento do Matrimônio, pelo qual os nubentes se unem e se tronam uma só carne por toda a vida, é sinal e figura do amor de Cristo por sua Igreja. São Paulo recomenda aos maridos, na carta que escreve aos Efésios, que estes devem “amar as suas esposas do mesmo modo como Cristo amou a sua esposa e por ela se entregou” (Ef 5,25). Amar um ao outro com o mesmo amor de Cristo: eis aqui toda a nobreza do matrimônio!

O conceito de amor, hoje, demasiadamente reduzido à esfera do sentimentalismo, necessita ser redescoberto em toda a sua amplitude. A citação da Carta de São Paulo aos cristãos da cidade de Éfeso refere-se ao modo de amar próprio de Cristo. Diz-se que Ele amou a sua Igreja e por Ela se entregou. Amor de entrega: eis aí o tipo de amor com que os casais são chamados a amar-se mutuamente!

Na sua primeira carta, São João escreve sobre o amor que Deus tem pela humanidade, dizendo: “nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele quem nos amou e enviou-nos seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados!” (I Jo 4,10). Segundo a epístola de João, o amor de Deus é uma realidade que sempre precede qualquer amor humano e, além disso, toda forma de amor parece ter sua origem no reconhecimento deste fato fundamental, a saber, “Deus nos amou por primeiro”. O reconhecimento do amor de Deus por nós purifica o amor humano e o ordena.

Talvez, a esta altura, o leitor se interrogue sobre o modo de reconhecer este amor prévio de Deus em sua vida. É simples: quando lançamos um olhar nas páginas do Novo Testamento, sobretudo nos Evangelhos, e recordamos as diversas fases da vida de Cristo, desde a sua encarnação até o sacrifício da Cruz, mais facilmente nos damos conta desse amor. O próprio Paulo, diante do mistério da cruz, se dá conta desta realidade e exclama: “Ele me amou e por mim se entregou.” (Gl 2,20). Aqui, Paulo descobre um nexo que existe entre o acontecimento da cruz e a sua própria pessoa.

A cruz é, portanto, a expressão máxima do amor de Deus pelos seres humanos. Na cruz, este amor torna-se visível. Aqui, além de tudo o que já foi dito, compreendemos uma faceta do conceito de ‘amor’: a entrega! O amor não é mero sentimentalismo, mas uma doação e entrega.

Retomemos o tema da espiritualidade conjugal, agora, iluminado por este conceito de amor. Quando, Paulo, na carta aos Efésios, recomenda que os maridos devem amar as esposas como Cristo amou a Igreja e por ela se entregou, compreende-se a que tipo de amor são chamados os cônjuges: um amor de entrega. Entregar-se por outra pessoa, exige sempre um certo esquecimento de si, uma abnegação. Deus, segundo o que nos diz o Apóstolo Paulo, não poupou o seu próprio Filho, ou seja, não poupou em última instância a si mesmo. Deus, portanto, esqueceu-se de si por amor a nós.

Partindo do princípio acima citado, compreendemos que o amor possui uma dimensão pascal: quem ama sempre experimenta uma certa morte de si mesmo (abnegação). Entretanto, seguindo a dinâmica pascal, esta morte de quem ama possui feições de sacrifício do qual brota o suave e agradável odor da ressurreição. Há nesta abnegação uma fecundidade que é verificável em diversos aspectos da vida do casal que realizam esta experiência: filhos, maturidade afetiva, amizades duradouras, capacidade de relacionamentos diversos.

Enfim, é preciso dizer que um amor como este não está somente na esfera da capacidade humana. Se este amor é próprio de Cristo, nós só o possuímos como dom. Diante desta experiência deveríamos nos sentir insuficientes e incapazes quando o tema a que nos referimos é o amor. Assim sendo, a nossa atitude é a de súplica: é preciso pedir a Deus que derrame em nossos corações o seu amor, ou seja, o seu próprio Espírito Santo.

* Por Pe. Elton Santana dos Santos - Coordenador da Pastoral Vocacional da Arquidiocese de Salvador.